Que a indústria farmacêutica é movida pela inovação, é sabido. Por isso, a busca por novidades na área produtiva, medicamentos, processos, tecnologias etc., e novas soluções para ampliar o mercado e o acesso é um processo contínuo.
Num contexto mais amplo, cabe às lideranças e entidades representativas rever permanentemente seus objetivos e ações, para garantir o ambiente regulatório e econômico adequado para que as empresas do setor atuem com eficiência, invistam e se fortaleçam, oferecendo mais e melhor “saúde em caixinhas” para a população brasileira.
É disto que o Sindusfarma/SP se ocupa há exatos 84 anos – comemorados neste mês de abril – sempre orientado por alguns preceitos fundamentais. Um deles é a não distinção das empresas pela origem de seu capital. Como costumo dizer, pouco importa se o capital da empresa vem do Norte do Brasil ou da América do Norte.
O que importa, sim, é que a empresa esteja aqui instalada, ofereça e desenvolva aqui produtos bons e necessários, gere aqui empregos e renda, recolha impostos (que não são poucos) aqui. Em suma, contribua de forma efetiva e socialmente responsável para o desenvolvimento do país.
Por ser frequentemente incompreendida, a questão da origem do capital gera muita polêmica. Daí decorreu minha satisfação em saber que a causa conta com um adepto de peso. Em artigo recente, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, defendeu o princípio histórico do Sindusfarma.
“Ideologias, quando levadas ao extremo, tornam as pessoas impermeáveis a argumentos e fatos. (…) Superada pela Constituição, que não faz distinção entre capital nacional e estrangeiro, essa discussão tem pouca utilidade na vida real”, escreveu Parente. “Na vida real, o que interessa são investimentos realizados e transformados em empregos, renda, impostos e qualidade de vida”.
Exatamente. A realidade se impõe às idiossincrasias, na forma de resultados concretos e inquestionáveis. Apesar dos conhecidos entraves burocráticos, tributários e de infraestrutura, o avançado polo farmacêutico brasileiro congrega empresas de todos os portes, procedências e especialidades que, além de contribuir para o crescimento econômico, oferecem produtos essenciais para a saúde e o bem-estar das famílias.
Num momento em que se discutem medidas para dinamizar a economia e encetar a chamada “reindustrialização” do país, esse ponto é particularmente relevante. Pois uma moderna agenda econômica e de desenvolvimento deve se assentar em medidas de médio e longo prazo que vão muito além de parcerias pontuais e arranjos localizados.
É consenso que o Brasil precisa ampliar sua participação no comércio global e melhorar sua competitividade internacional. E um dos caminhos mais promissores para alcançar esta meta é investir em atividades com alto potencial de geração de conhecimento e desenvolvimento tecnológico, como a indústria farmacêutica e o complexo da saúde em geral. Para indústrias de ponta, com ampla e antiga inserção mundial, políticas setoriais afinadas com os novos tempos dependem de diretrizes que incentivem a inovação e contemplem parcerias estratégicas de médio e longo prazo, necessariamente integradas aos mercados globais.
Trata-se de uma articulação público-privada complexa, é verdade. Mas que, no caso da indústria farmacêutica instalada no país, terá maior chance de sucesso se, em linha com os interesses da sociedade brasileira e a dinâmica própria do setor, forem devidamente entendidas, consideradas e coordenadas as aptidões, necessidades e estratégias tanto das empresas de capital nacional quanto internacional.
Nelson Mussolini é presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma) e membro titular do Conselho Nacional de Saúde.
Fonte: Correio Braziliense. Autor: Nelson Mussolini (04/04/2017)