País ocupa a 69ª posição no Índice Global de Inovação em ranking com 127 nações. Experiência internacional aponta que é preciso ampliar investimentos para estimular economia. Leia na segunda parte especial O Brasil que Inova
Inovação distingue um líder de um seguidor, dizia Steve Jobs, fundador do império Apple. Na corrida da inovação, o Brasil caminha no segundo pelotão. Após um salto significativo de desempenho no início dos anos 2000, o país perdeu fôlego. Ano após ano, cai em rankings mundiais de inovação. A perfomance do Brasil é incompatível com o posto de maior economia da América Latina e 9ª maior do mundo. Mesmo assim, apesar das dificuldades, surgem ideias geniais, nascem empresas novas, criam-se tecnologias de ponta. O Brasil que inova existe. Só que às vezes é difícil vê-lo.
Talvez porque ainda estamos distantes do grupo de elite. Bem distantes. No Índice Global de Inovação, principal ranking internacional, o Brasil ocupa a 69ª posição entre 127 países pesquisados em 2017. Segue atrás de nações menos expressivas tanto em porte econômico quanto industrial, como Bahrein, Macedônia e Kwait. Considerando as Américas, com exceção de Estados Unidos e Canadá, o Brasil não figura sequer entre os cinco mais inovadores da região. Perde para Chile, Costa Rica, México, Panamá, Colômbia e Uruguai.
Nos últimos sete anos, entre 2017 e 2011, o Brasil despencou 22 posições no ranking. Hoje, o gap com a Suíça, topo da lista, é o seguinte: seria preciso aumentar em 60% os investimentos em inovação e apresentar resultados 170% melhores para alcançar a performance suíça de hoje. “Estamos na contramão do mundo. Enquanto os países desenvolvidos investem cada vez mais em inovação, pois entenderam que esta é a estratégia mais vencedora para ser e permanecer desenvolvidos, convivemos com recursos contingenciados, intensa burocracia e um ambiente de negócios hostil à inovação no Brasil”, afirma Gianna Sagazio, diretora de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Indicadores correlatos reforçam a mensagem. No último Doing Business, editado pelo Banco Mundial, entre 190 países, o Brasil amarga a 127ª colocação em ambiente de negócios. Segundo o índice, o cenário é mais amigável no Irã, em Uganda e em Papua Guiné que no Brasil.
Os dados de investimentos em pesquisa e desenvolvimento mais recentes no país são de 2015. Segundo o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), governo e empresas investiram R$ 76 bilhões em inovação em 2015, 1,28% do Produto Interno Bruto (PIB). Público e privado entraram com exatos 0,64% cada – a primeira vez que o nível de investimentos é igual entre as partes desde 2006. É a maior participação da inovação em relação ao PIB da série histórica iniciada em 2000. Ainda assim, há bastante chão até que o país alcance os 2,3% médios investidos por países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A experiência internacional, sobretudo de países na fronteira da inovação, mostra que o gasto público é uma mola para o investimento privado. A economista italiana Mariana Mazzucato gosta de demonstrar o papel do Estado como indutor do desenvolvimento tecnológico com o exemplo do iPhone.
“Perguntem-se quem realmente financiou coisas muito legais, de pensamento inovador e revolucionário, no iPhone. O que, na verdade, faz do seu celular um telefone esperto, basicamente, ao invés de um celular estúpido? Então, a Internet, onde dá para navegar para qualquer lugar no mundo; GPS, para saber onde você está em qualquer lugar do mundo; a tela sensível ao toque, que também o torna um celular fácil de usar por qualquer pessoa. Essas são as coisas muito inteligentes, revolucionárias no iPhone, e são todas financiadas pelo governo americano”, explica. A internet foi financiada pelo Departamento de Defesa, o GPS pelos militares, a tela sensível ao toque é produto de financiamento da CIA e da National Science Foundation à Universidade de Delaware.
“O Estado também forma e cria mercados. Nestes casos, estava financiando não somente a pesquisa de base, que novamente é um benefício público típico, mas a pesquisa aplicada. Estava até mesmo sendo um investidor de risco. Então, programas que fornecem às pequenas empresas financiamentos nos estágios iniciais têm sido não somente muito importantes, comparadas ao capital de risco privado, mas também têm se tornado cada vez mais importantes. Por quê? Porque o capital de risco é basicamente de curto prazo. Eles querem os retornos num prazo de três a cinco anos. A inovação demora muito mais do que isso, de 15 a 20 anos”, avalia.
Enquanto isso, no Brasil, os principais fundos de financiamento e subvenção, modelo mais adequado para projetos de risco, sofrem com cortes e contingenciamentos. Segundo a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), braço executivo do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), hoje o orçamento para crédito é de R$ 6 bilhões, mas com baixa demanda, enquanto o fundo perdido, para projetos de risco, é de R$ 600 milhões, contra R$ 4 bi em 2016.
“Vemos um verdadeiro desmonte da estrutura de ciência e tecnologia, com equipes e laboratórios inteiros se desfazendo”, afirmou o presidente da Finep, Marcos Cintra, recentemente, em reunião da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). Uma das propostas da Finep para escapar do contingeciamento é transformar o FNDCT em fundo financeiro por medida provisória. “Assim, os recursos permaneceriam no FNDCT, rendendo juros, até sua eventual liberação”, explicou.
Fonte: Portal da Indústria, 25/10/2017.