Dependentes de muita matéria prima importada e com estoque de giro rápido, produtos farmacêuticos e o pãozinho de cada dia não têm como adiar o repasse da alta do dólar e já estão pesando mais no bolso do consumidor. Os alimentos à base de trigo — grupo que inclui também biscoitos e macarrão — já vêm subindo desde março, quando a moeda americana ultrapassou a barreira dos R$ 3, porque grande parte da farinha usada no Brasil é importada da Argentina e dos EUA. Segundo a Abimap, a entidade que representa o setor, há um aumento de custos médios da ordem de 5% decorrente do câmbio. Com isso, o pãozinho francês ficou 8,1% mais caro de janeiro a agosto, quando a inflação medida pelo IPCA foi de 7,06%.
— Mas a tendência é que os fabricantes segurem ao máximo essa alta, porque não querem perder vendas. Por enquanto, dá para segurar, mas, se o dólar continuar subindo além dos R$ 4, não haverá como segurar — diz Cláudio Zanão, presidente da Abimap, que não descarta que alguns repasses ocorram.
Na indústria farmacêutica, que tem 95% das matérias- primas importadas, o efeito imediato será na redução dos descontos oferecidos pela indústria ao varejo. Os preços da maioria dos medicamentos são controlados pelo governo, que autoriza um aumento por ano. Preços de perfumes e maquiagem também devem subir.
— A escalada do dólar reduz drasticamente a rentabilidade das empresas e o que deve acontecer é uma mudança nas condições comerciais com atacadistas e farmácias, que, para os consumidores, significa menos descontos nos preços — diz Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindusfarma.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 ( IPCA15) considerado a prévia da inflação oficial, fechou setembro em 0,39%, contra 0,43% em agosto. Em 12 meses, o IPCA- 15 chega a 9,57% — o maior desde dezembro de 2003 ( 9,86%).