Para o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a queda de 0,3% da produção industrial entre março e abril e os três trimestres consecutivos de retração da atividade do setor mostram um quadro de recessão para a indústria, que tende a influenciar o restante dos segmentos produtivos. "A indústria representa pouco menos de 13% do PIB, mas tem influência muito maior do que isso sobre a atividade", afirma.
Laura Cardoso, professora da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que além do baixo dinamismo do consumo das famílias nos últimos meses, as importações ficaram menos competitivas com a desvalorização recente do real em relação ao dólar.
Para a economista, o desempenho da indústria também tem sido prejudicado por acúmulo de estoques em alguns setores, o que, no entanto, pode ser uma boa notícia para os próximos meses. Em segmentos como madeira, celulose e minerais não-metálicos, houve aumento das exportações e recuo das importações nos primeiros quatro meses do ano. O faturamento nesses segmentos também cresceu, mas a produção não, possivelmente por ajuste de estoques. Se essa avaliação estiver correta, diz Laura, esses segmentos tendem a mostrar alguma recuperação nos próximos meses.
No entanto, em um ramo bastante importante da indústria, o automobilístico, os indicadores foram predominantemente negativos nos quatro primeiros meses deste ano, observa Laura, com queda da produção, do faturamento e das exportações. "É um setor que tende a sofrer no médio e longo prazo, já que teve seu último fôlego com os incentivos e agora só deve reagir quando a economia como um todo melhorar", afirma a professora da FGV.
Para Edgard Pereira, professor da Unicamp, a redução do consumo de bens duráveis está ligada ao aumento da alta de juros, que ao lado do desânimo dos empresários ajuda a explicar o desaquecimento da atividade econômica. "O crédito ficou mais caro e a inflação em alta reduziu a renda disponível, o que explica a retração das vendas no varejo e o desânimo dos empresários."
Um dos reflexos desse cenário, diz, é que o repasse de aumento de custos ficou mais difícil. Como o faturamento também leva em consideração a evolução de preços, além do volume vendido, a dificuldade de realizar reajustes acaba reduzindo as altas do faturamento acima da inflação.
Pereira vê com desânimo os prognósticos para a indústria. "2014 é um ano que mal começou e já acabou", diz. O professor da Unicamp projeta retração de 1,8% da produção industrial neste ano, devolvendo boa parte da alta de 2,3% observada em 2013.
Pereira ressalta que é uma piora em relação ao avanço de 1% da produção da indústria de transformação nos 12 meses acumulados até abril. "Não se sai do processo atual de piora automaticamente", diz. Para ele, medidas práticas só devem ser tomadas no novo governo, no próximo ano, seja ele situação ou oposição.
Gomes de Almeida partilha dessa opinião. Em sua avaliação, dificilmente a indústria vai sair do quadro de queda da produção ainda em 2014. "Qual instrumento o governo tem para contrabalançar esse cenário? O setor externo não ajuda, reduzir juros e desvalorizar o câmbio elevariam a inflação e há restrições fiscais", observa.